Berenice
Sabe essa coceira nas solas dos pés da alma?
Eu tenho ela!
Não descansa essa fome de trilhar todo tipo de caminho!
De cravar essas caricaturas das ruas no meio do meu peito!
Atravessar becos escuros
pra chegar num oeste de luz.
E contemplar os insetos trombando contra o vidro...
Uma degustação sem fim de erros
ensopados em porções de impulsos e fé.
Como quem ultrapassa limites,
tendo como motivo esses
senhores cheios de si!
Donos da razão-engrenagem do universo.
Sabem o que querem desde as fraldas,
e lutam,
ávidos,
pelo sucesso de seus antepassados,
só para colher glórias fantasmagóricas.
Eu provo a vida de sal
e gozo de um doce profundo,
de quem corre descalça na selva
pra se sentir parte das entranhas do mundo.
Dessas obrigações de culpa, privo-me!
Que as minhas dores sirvam-me
de entretenimento
numa tarde preguiçosa da velhice!
Eu nasci com alma inconsequente, que é pra desbravar a merda
e nadar infinita num eu multíplice! Sem medo dessa gente...
Alguns chamam-me por Sandice, eu prefiro Berenice!