BLASFÊMIA

Ó Deus, grande senhor da criação,

Supremo dono e pai de tudo,

Por que deixaste, contudo,

Um de seus filhos nessa solidão?

Não vês, por acaso, que esse ser perece?

Entre tantos cais, tantos faróis...

Naufragou-se nesse mar atroz

Que não se acalma à sua prece.

No deserto, com sede e fome ele está,

Fende a rocha e água não lhe sai,

Vê aos poucos a vida que se esvai

E tu não lhe mandas do céu o maná.

Com fé ele sonha com a terra prometida,

Mas, o Jordão não se abre à sua frente,

Gritos e relinches perturbam sua mente

(É, à sua cola, uma tropa enfurecida...).

Ó senhor, mil vezes a escravidão no Egito...!

Lá ao menos ele tinha o que comer...

E aqui, certamente vai morrer:

Sujo, só, infeliz, aflito...

José Marcos Pinto
Enviado por José Marcos Pinto em 05/04/2016
Código do texto: T5595376
Classificação de conteúdo: seguro