Insanidade
Teus jogos são meu vício
Em tua ausência sou como louca não medicada
E acho que fui parar no hospício outra vez
Seria tão simples, se apenas tocasses meu ombro com cuidado
E sussurrasses palavras gentis em meu ouvido
Pois sabes que só tu tens o poder de me acalmar
Mas, por algum motivo sádico, te vais sem aviso
E preferes deixar que os pesadelos me engulam entre quatro paredes brancas
Enquanto alucino febrilmente com teu retorno
Presa numa camisa de força que não vai me segurar por muito tempo
Rindo insanamente das correntes que não vão me impedir de destruir o mundo
Não sou tão louca assim
Talvez só o suficiente para assustar alguns desavisados
Só o necessário para que nenhum Anjo da Guarda perca tempo tentando me levar para o Céu
Meu flerte com a Sanidade terminou mal para nós duas
E sei que gostas da minha loucura
Pois ela faz com que possas me levar para lugares aonde nenhuma outra iria
Pois ela arranca de minha boca palavras que nenhuma outra diria
Pois ela deixa meu corpo vagar de jeitos que nenhum outro corpo vagaria
E já estais imaginando os movimentos com tua mente quase tão louca quanto a minha
Os corredores são longos e as portas são todas iguais
Soaria assustador, se não parecesse tanto que apenas me perdi dentro da minha mente outra vez
(E acho que os corredores dentro dela são ainda mais longos!)
As luzes piscam, e até mesmo aqui as palavras me perseguem
Até mesmo aqui tua ausência é paradoxalmente presente
Caminho com os olhos vidrados
Imaginando quando os enfermeiros vão me encontrar
Sua ausência de empatia é macabra
Mas não mais macabra que sua convicção de que aqui é mesmo o meu lugar
Em meus delírios, tu escancaras a porta
Derrubas dois ou três enfermeiros e me resgatas feito cavaleiro
Só podia ser em sonho, eu apreciando um resgate
Na verdade cheguei à porta porque um demônio me contou o caminho
(Foi o único que acreditou que aqui não era meu lugar)
Estou indo para casa
Desvairada, não medicada, de alma escancarada
Posso crer que vens me buscar?