AbStRaÇõEs

Mais difícil

do que falar é ouvir

talvez calar seja fácil

e para não ouvir, partir.

E na estação do metro Sé

quantas caras desconhecidas

então cresce minha angústia já sabida

se, não se quer ouvir ou falar, melhor ter fé

talvez Carlos Drummond dissesse "E agora José".

Era um mar de ondas carnais sem direção

me deixo levar esquecendo a aflição

tantas calças e vestidos e sapatos.

Eram flash de um retrato, preto e branco

sem vida, cor ou um destino imediato

era pura abstração.

Partir bem que deveria ser fácil,

mas não é assim

Enfim partir para onde?

Como é difícil chegar até as estrelas!

A inutilidade da minha existência em um trem.

Na janela apenas sombras de sujas paredes

nem arvores ou bosques nada nem ninguém.

Por todos os lados inanimadamente seres

animados polegares digitando ferozmente

mãos, cabeças, braços em um mundo virtual.

Quem sabe estou apenas em um sonho

alguém bateu na minha cabeça, pancada forte

faz a gente delirar.

Estarei talvez no limiar entre a vida e a morte

apenas um olho na minha cabeça

vê um horizonte de alheamento,

como um cortejo que segue para me enterrar.

Meu Deus como é difícil ter de partir!

Desvincular-me da realidade e me perder em abstrações.

Finalmente eu vi a aproximação da Luz

será que ainda haveria tempo?

Quantos nomes, quantos devaneios e anseios,

tudo para acabar assim,

deste jeito, esquecido sem nenhum conhecido.

Se pelos menos como Jesus

eu fosse sacrificado na cruz

claro

não teria a mesma importância ou história

mas ficaria na memória

E por um tempo quem sabe ainda

alguém diria:

Olha lá! teve uma morte linda.

Mas não, apenas mais um desconhecido

em meio a multidão... inútil

Fugindo para não ouvir nem falar,

tendo de partir para não ficar,

procurando no real, espaço para abstrações,

isolando toda a concretude dos elementos.

Por isto então não lamento,

mas o inferno esta cheio de boas intenções.

Não sei como cheguei na rua, não na lua

como pensei que queria

não havia um céu estrelado nem anjos

nem ninfas, sátiros ou arcanjos

havia um enorme carro branco

caras agora conhecidas pois

eram brancas como cera.

Vestiram em mim uma camisa

mal feita por alguma costureira

que me impedia de pensar

de ouvir ou de falar

enfim fácil ou difícil

me levaram foi para o hospício

Que coisa não!

alexandre montalvan
Enviado por alexandre montalvan em 22/02/2016
Código do texto: T5551702
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