Ladrão de memórias
Há coisas que é melhor manter no passado.
Os meus tempos passados são obscuros, cheios de fumaça, bagunçados e tristes.
Há, principalmente, loucura.
Remédios. Houve muitos remédios.
A maior parte da minha infância e juventude foram tomados tentando não ficar louca.
As minhas memórias fugiram. Foram roubadas.
Quem as roubou? Que absurdo!
Minhas memórias foram aos poucos retiradas.
E há dor. Tristeza. Sinto isso.
Mas não lembro. Não consigo lembrar dos momentos em que eu provavelmente vivia dopada.
Todos se ocupavam em não me deixar enlouquecer.
E todos me esconderam isso!
Minhas memórias foram roubadas, os fortes remédios as roubaram.
Mas, eu era só uma jovem pessoa tentando viver.
Tudo o que fizeram foi jogar os remédios garganta abaixo.
"Tome, você não pode enlouquecer."
"Seja normal."
E se eu já estiver louca?
E se eu achar que agora tudo faz sentido?
Meus anos foram roubados.
"Você não vai ficar louca."
Agora, já é tarde demais para dizer isso.