Ladrão de memórias

Há coisas que é melhor manter no passado.

Os meus tempos passados são obscuros, cheios de fumaça, bagunçados e tristes.

Há, principalmente, loucura.

Remédios. Houve muitos remédios.

A maior parte da minha infância e juventude foram tomados tentando não ficar louca.

As minhas memórias fugiram. Foram roubadas.

Quem as roubou? Que absurdo!

Minhas memórias foram aos poucos retiradas.

E há dor. Tristeza. Sinto isso.

Mas não lembro. Não consigo lembrar dos momentos em que eu provavelmente vivia dopada.

Todos se ocupavam em não me deixar enlouquecer.

E todos me esconderam isso!

Minhas memórias foram roubadas, os fortes remédios as roubaram.

Mas, eu era só uma jovem pessoa tentando viver.

Tudo o que fizeram foi jogar os remédios garganta abaixo.

"Tome, você não pode enlouquecer."

"Seja normal."

E se eu já estiver louca?

E se eu achar que agora tudo faz sentido?

Meus anos foram roubados.

"Você não vai ficar louca."

Agora, já é tarde demais para dizer isso.

Leticia Moura
Enviado por Leticia Moura em 19/02/2016
Código do texto: T5548728
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