PARA NÃO ENLOUQUECER NUMA MANHÃ DE AGOSTO
Para não enlouquecer numa manhã de agosto,
Cantar como o sol é necessário.
No idioma sol e em tons vários:
Aurora, meio-dia, alaranjado.
Serenar como a chuva (se ela veio),
Como a terra, sabê-la necessária,
Depurando as secas e poluídas cidades,
Florescendo os campos, poetizando.
Para não enlouquecer numa manhã de agosto,
Enxergar que é uma estrela o coração,
E na pele sentir a queimação
Toda do amor – dores, êxtases, anseios.
E embriagar-se ao despertar, vermelhos, roxos
E ouros, em cintilações vivas, pulsantes
Em redor e no peito e nos sentidos,
Da água, luz e ar desta manhã nas veias.
E pulsar como o infinito e ser humano
No tédio e na canção, na lágrima e no beijo,
E cantar como o infinito e dançar como um louco,
Para não enlouquecer numa manhã de agosto.