Alva árvore

Sem qualquer escrúpulo encontro o erro

E com sua ganância terrível, é impossível não temer e ranger de medo.

A supremacia da evaporação sobre as gotas de orvalho remove:

Aquilo que por ventura da criança se criasse

As formas precisas dos átomos que nunca me compuseram

A inútil música híbrida, entre o clássico e o meu tom.

O desejo fútil enseja a possibilidade clara de vingar.

Espaço breve entre desilusão e vazio.

Corro pelos vales que bravejaram os ritos esponsais que desposaram a [infância.

Os vales desertos são duras brechas na frágil pele da alma,

Corrompem, em mitológicos tormentos, a memória dos vagos tempos que [presenciei.

Pouco vale preservar a visão como se namora uma vida, é relva que pune [com precisão.

Entre os vales, colinas. Entre uma colina, árvore, onde é possível recostar [e repousar

Mas há, brotando galhos, frutos interiores de uma áspera infância.

A chegada pacífica dentro sua sombra não expeliu a brutalidade da luz.

O vento descabela os poucos galhos. Poucos, mas fortes. Aí bate [fielmente o vento Norte

Que rapta, Titã, e que apressa, de mais a mais, o que a vida toda [consome.

Na plenitude da matéria, é o vento que descondensa e que alivia o corpo.

Caso a pluma de meus pensamentos parta de longa jornada,

Com a árvore se depararia, com a fome que lhe viria em contrapartida.

Mas da árvore frutos não são colhidos nem folhas nem caule.

Árvore constituída pelo vento. Nem Eolo, com ventos contrários, [conseguiu dissolvê-la.

Eu, com pés que fincam no chão, atrevido de escalar galhos?

Conheço melhor o medo que corrói tantas vísceras do que a arte de [planar.

Bosque ou colina? Quando, no passado em chamas, encontrei tal árvore

Talvez o tronco da memória estivesse completamente oco.

Lembro da relva, fiel às raízes, dos galhos, interpostos ao esplêndido céu, [real.

A alva árvore tramava guerras infindáveis comigo, nunca a evitei! Mas em [contra,

Raras as vezes que a enfrentei, com o receio de quem recebe o primeiro [beijo.

A árvore, ai!, escondia uma bruxa, a maldita bruxa do meu fúnebre [cortejo.

(Gabriel Mayer, 06/07/07)