O PRIMATA
Longe.
O tremor de terra vem longe,
vem pela fresta matinal.
O tremor
arrasta sem epicentro
o seu contorno sísmico,
simiesco.
O tremor de terra caminha,
palmilha toda a falha geológica:
a cidade metrificada,
a imobilidade geral,
um sentimento de nulidade que permeia
o mundo sapiens sapiens.
O tremor quase pensante avança,
cavidade regular grunhindo
outra forma de existir
em estalo superior.
Vejam. Mais um membro articulado
destruindo corcovados de cimento súbito.
Não sobrará pedra em cima de pedra.
Nossa espécie agoniza
profundamente.
Repare,
este tremor
infecção otológica
dilatando-se
às cinco da manhã,
não é o simples adoecer
do teu corpo indefeso,
mas a percepção
do nosso próximo passo evolutivo,
o catalisador de precipícios,
o homem fenda.
Do livro: Borboletas noturnas não existem