Dose de Cegueira

Pelas coisas serem vomitadas da horrível maneira que elas são

Em nossas mentes, se é que entendes, já estou perdendo a noção

Do que é o correto e do que é a mentira. Sempre em contradição

Esperando o professor que me ensine essa maldita lição perdida.

Irado e malicioso, sou perverso com a minha própria felicidade,

Quero explodir então nesta poesia incompreendida e descontida

A maldição que herdei de uma descultura nojenta e cheia de vaidade

Castidade viadagem criticidade inocência caretice utopia politicismo

Teimosia fantasia invenção provocação timidez e um maldito dadaísmo.

É por essas e por outras que tenho espasmos e me destruo mas ainda

Assim eu continuo como um babaca e me espanco feito um suicida podre.

Hipnotizado por uma linda e apunhalado por um homicida interno de merda.

Palavrão, palavrão, palavrão, que se dane essa porra. Direita, esquerda,

Cima ou baixo. Não tenho para onde correr quando o inimigo sou eu.

Um garoto coxo e solitário que tropeçou em si mesmo e se perdeu

Caído na lava se queimava, tentou sonhar segurança mas morreu.

Suicídio, suicídio, suicídio, que merda é essa que estou fazendo?

Para viver nesse circo aqui eu preciso de uma overdose de cegueira.

Quem vai me dar a receita? Quem vai me dar a receita dessa droga?

Eu falo com um neurologista, um cardiologista ou uma psicóloga?

Que se dane! Só me dê! Quero viver em um mundo livre de besteira!

Ah, mas que droga. Por que eu tinha que ter aprendido a escrever?

Agora todos os cegos que já tomaram a cura vão poder me ver sofrer!

Estou falando de bebidas e de drogas. Eu estou falando de sexo.

Estou que falando que essa maldição não sai não importa o que eu faço.

Estou falando um mundo que eu pensava ser apenas uma caricatura

Mas que existe e me fere com ideias e mentalidades que são impuras.

Não foi para isso que me prepararam quando criança. Não foi, não!

Por que tudo mentiu para mim? Por que me fizeram um menino doce?

Eu não estou preparado para isso. O planeta Terra partiu meu coração,

Virou-se contra mim e me tirou tudo o que um dia me deu num só coice...

Agora eu sou obrigado a compreender os assassinos surgindo por aí

Que vejo nos noticiários da televisão aos quais desde pequeno eu assisti,

Tem assassino podre mas também tem assassino que só não tomou a cura.

Sim, eu sei disso. E já estou em busca do antídoto para essa descultura,

Mas a cegueira odeia quem escreve poemas. Essa sina é uma tortura.

Tragam-me a doses de cegueira. Tragam-me muitas, quero overdose.

Chega de só pensar besteira. Chega de sentir nojo de tantas pessoas,

Eu quero ser sedado e curado, eu quero ser pego por essa hipnose.

Eu quero sair desse inferno que os adultos maus me fizeram enxergar,

Quero ter esperanças de que o meu mundo vai poder continuar a girar.

Quero esquecer as rosas e o mar, quero trabalhar em esteira e fumar.

Quero me matar para não morrer. Quero morrer para não matar.

Quero aprender a desviver. Quero querer o que querem. Quero desquerer.

Quero, quero, quero, quero. Sabe o que eu mais quero? Quero chorar

Lagos e rios em luto pelo planeta. Só porque não tive minha dose de cegueira.

Um dia em um planeta distante eu talvez viva o que nunca viverei,

Nesse dia estarei mais vivo do que o maior rei entre todos os reis.

Serei o mais vivo depois de provar da experiência de ser o mais morto.

Respirar pela primeira vez na vida um ar que não seja torto.

22/12/2015