INOCÊNCIA
Ensinada a ignorar
As imoralidades das ruas
Trancada num quarto vago
E mudo
Impedida de pôr os pés
No mundo
Eu cresci
Tapando os ouvidos
Para a imundice da boca
Dos homens
Fechando os olhos para
As cenas obscenas
De uma novela das onze
Princesa trancafiada
Numa torre
Desconhecendo o horizonte
Vivendo com limites
E barreiras
Vestindo véu,
Cobrindo o rosto
E o corpo
Vivendo a loucura de um louco
O que os meus olhos
Não puderem ver
Vão desconhecer
Até que eu envelheça
E perca o interesse
Em conhecer o mundo
E todos serão cães vagabundos
Só eu ainda estarei presa
À minha ingenuidade
Aos danos da idade
Que me impedirâo de correr.