OBSESSÃO
Você, cujas mãos sujas tremem e temem.
Que os olhos choram e secam.
Que o coração cora e cala,
Que tem os pés perdidos e sem chão.
Você quem tem os momentos exatos
Nos lugares incertos.
Que não sabe se vai apertar o gatilho.
Que olha sobre a beirada da vida,
Que não sobe nos telhados e cai,
Que se sobressai na multidão,
Que não esquece o que passou.
Você não tem muito tempo,
Abrir a porta da filosofia
Não é a melhor solução.
Você que faz fantasia
No dia da sua morte,
Que tem a sorte de saber
O quanto custa para morrer.
Você, que um dia já trabalhou,
Que sonhou ter família e muitos filhos,
Que se sujou na graxa do destino,
Que de fato, fez um apelo.
Que foi negado pelos amigos,
Que rastejou para ter um abrigo,
Que correu perigos
E dormiu sob a lua cheia.
Na história existem tantos iguais,
Nada é demais, nem pouco,
O médico matou o louco.
Você, que pegou nos espinhos das rosas,
Que jurou amor eterno a quem não devia,
Que adivinhou um futuro incerto
Para um certo desconhecido.
Que acordou cedo por tanto tempo
Que não pensa mais em dormir.
Você,
Que quis sumir do mundo
E não se chamar Raimundo.
Que perdeu o rumo
Na boca de um copo
Cheio de cor e veneno.
Que sentiu a dor da doença
Dentro do corpo
Que não se cansa de sonhar.
Que abriu sua cabeça
Para quem pudesse lhe entender,
Que pensou menos em você
Do que nos outros.
Você, que foi pago com o ouro dos tolos,
Que foi pego com a mão na massa,
Que só sentiu desgraça,
E mesmo assim achou graça
Das coisas ruins.
Que assim mesmo,
Achou estar ileso
Contra o mal.
Que normalmente se confunde
Com palavras que juntem mais de três letras,
Que não sabe soletrar futuro,
Que se perde entre as paredes
Com medo da escuridão.
Que nem sempre foi criança,
Nem adulto,
Mas amou como se ninguém mais
Soubesse assim amar.
Pensou até em pedir desculpas
Para suas culpas,
E cuspir na própria face.
Que usou disfarce
Para enganar a própria mãe
E não soube nada
De seus próprios Irmãos.
Limpou chão imundo com os próprios lábios
E ensinou aos sábios o que é não ser.
E como o ser das horas desconhecidas
Crucificou-se com os próprios braços
Nas correntes das tantas vidas
Que pensou em viver.