Penso, logo, não existo
A mula-sem-cabeça tremula as orelhas,
Desconfiada do chapéu que lhe oferto;
Saci cruza as pernas, coça as sobrancelhas,
Matutando se sou louco, ou só esperto...
O sol forte cresta ao couro do lobisomem,
E dificulta que eu ache as pegadas da cobra;
A razão baliza sempre os passos do homem,
Que atinge a meta inexistente, depois, dobra...
A pastora parricida é um ótimo exemplo,
Dos bons valores que defendo, que esposo;
Com sobejas razões lhe oferto um templo,
Onde, da sua santa presença eu gozo...
Semeio a cizânia e denuncio alheio ódio,
Gosto da democracia, quando, a meu favor;
Meus pares, quais sejam, merecem o pódio,
Os divergentes, sob a lei e todo seu rigor...
Dos confrades, cada discurso é uma bula,
De Chaves, Morales, Fidel, Boff, e o meu;
Creio piamente no bom caráter do Lula,
E não duvido da inocência do Zé Dirceu...
Afirmo que o Janot é procurador de justiça,
Invejosos dizem que só procurou emprego;
Se, investigar empregadores seus tem preguiça,
A ser mais realista que o rei, isso, não chego...
Antes que alguém me mande longe, à merda,
Rasgo minha máscara, meu ser, não escondo;
Sou um brilhante intelectual de esquerda,
Lógico e possível, como esquadro redondo...