ANDARILHO
Ando vagando pelas ruas,
à tua procura,
mas não te encontro.
Entro em Igrejas e Conventos
te procuro fora e dentro.
Feito um Louco desesperado
ando todo esfarrapado
não me preocupo comigo.
Angústia é o meu Castigo.
Não falas mais comigo
ando nas ruas
subo e desço.
Geralmente me esqueço
de qual seria o endereço
que te escondes,
diz-me onde.
Ando louco enfurecido,
têm medo de mim,
sou distraído.
Não sei onde tenho ido,
mas te trago sempre comigo.
Pareço um Vagabundo,
ser de algum Submundo
pareço, mas não sou,
sou distinto, sou astuto,
pensas que não
mas te escuto.
Te ouço aqui dentro de mim
a falar, a rir.
Porque fazes assim?
Porque me deixas assim?
Não sais de dentro de mim?
Loucura é o teu nome,
Demência teu sobrenome
de que adianta ser homem
se és tu quem me consomes.
Louco, Maluco
me chamam assim,
e tu me olhas e ris de mim.
Me deixas desesperado
sem trajes despenteado
pelas ruas humilhado.
Não queria ser assim.
Nestes momentos de Lucidez
entendo a estupidez
que me obrigas à ser.
Mas lá vens tu novamente
invades a minha mente.
Começa tudo outra vez,
novamente um Vagabundo
esquecido pelo Mundo.
Andarilho sem Destino.
Volto à ser o preferido
do Mundo, covarde freguês.
Das crianças inocentes
sou o prato preferido.
Riem. Brincam comigo,
me fazem de palhaço Arlequim,
Pierrô ama a minha Colombina
é minha sina ser assim.
Onde andará ela?
Talvez naquela janela
me olhando, e rindo de mim.
Triste sina de menino,
que brincava, tinha futuro
achava o mundo colorido,
hoje em dia sou assim
Andarilho, perdido no Mundo,
quem sou eu afinal?
Não me lembro, não faz mal...
Palhaço ou Vagabundo,
não importa, sou cria do Mundo.
NELSON TAVARES