Hora de entrar - Hora de sair -
- Corre corre o meio-dia
Ser atraso é ser a meta
Bem atrás da nostalgia
Enfia-lhe uma ampulheta
E sangra um ditoso verme
No solo que faz semente
Pelos trigos da epiderme
De uma grávida serpente
Hora passa / passa o medo
Vagão - trem - locomotiva
Como um trilho de brinquedo
Sobre um navio à deriva
Passa a rua / a nuvem passa
Passa a fada e seu dragão
De mãos dadas pela praça
Beijam bolhas-de-sabão
Bem no fim (como na vida)
O mistério se esclarece
Fala mais sobre a subida
Quanto mais finge que desce
Já meia-noite goteja
Sobre todo o desconsolo
Serve a vida na bandeja
O mestre pega / perde o tolo
Perderá cada um de nós
Quanto mais pressa estivermos
Quando houver uma só voz
A cruzar os campos ermos
Quando a fome for piada
De um passado / então a pressa
Vai saber que não há nada
Entre o que acaba. E começa -
(Do livro: UM JEITO ESTÚPIDO DE SONHAR)