O LAGO DORMENTE
Estávamos a espera...
esperávamos a efígie
no porto cinzento do lago dormente
SEM TEMPO
Algo movia-se rasteiro
bisbilhotando um ícone, uma forma, uma palavra
espreitando um estigma temporário
para símbolos latentes
que se movem inconscientes nas águas do lago dormente
(quando percebi que era o meu pensamento fugídio
se esgueirando pela relva, escapando,
crocitando, espiando, atraiçoando-nos
- o pensamento - este pequeno animal
já havia escapulido por entre as folhas e a escuridão)
Figuras sem cor e arautos neurastênicos
anunciando qualquer epíteto inconsistente
que afunda após seu nascimento absurdo
nas águas escuras e pesadas do lago dormente
acotovelavam-se num mutismo desolador
UM FANTASMA
Uxoricídio, fratricídio, matricídio, parricídio, genocídio,
crimes característicos de vidas de plástico...
as névoas repousando sobre dias de sol,
dias vomitados a beira das janelas bisbilhoteiras,
a fome, a sede, a luz
Aranzéis requintados se desfazendo como fumaça
dissimulando atitudes altruístas
os momentos que não deixam vestígios
levando consigo o sentido das palavras
nada,
nada adiantará pois o lago ainda será dormente
E os aranzéis e os crimes todos continuarão
em suas margens mortas
enquanto estamos assistindo a tudo e nos entorpecendo
e consumindo produtos e dizendo obscenidades,
é a vetusta loucura do mundo, é a natureza humana
Minha visão do lago foi um flash translúcido na noite;
sua lembrança será eterna
Tantas histórias apodrecendo, tantas fábulas
mofando sem que ninguém perceba
TÍSICA VENTANIA
VEM O VENTO DOS
HEMISFÉRIOS E A
LUZ HOMO SAPIENS
OBNUBILA-SE LENTAMENTE
Nulo o momento pelo qual se estendem
as possibilidades das sintaxes absortas no papel
anularem-se sistematicamente trazendo à tona
a síntese de um tronco vazio, oco...
Morpheus