NOITE
Hoje a noite não me surpreendeu
Não a esperei de mãos vazias;
Me armei com meus medos,
Minhas vertigens me foram escudo.
Vesti-me de pavor,
E do que me causa dor fiz um amuleto
Me apeguei a mim mesmo
como quem se apega ao nada quando cai
agarrando o ar enquanto se debate
Assim recebi a noite
E assim ela chegou.
…
Hoje eu surpreendi a noite.
Ela não me achou com as mãos vazias.
Cheio de mim mesmo a acolhi,
Me fiz parceiro dela enquanto seu frio me acolchoava;
E suas trevas me cobriam.
Não surpreendi a noite,
Ela mesma encheu minhas mãos.