âmago dos sonhos.
Sou a sombra de tudo que é etéreo.
A margem de tudo que flameja.
O equilíbrio de tudo que levita,
O desejo à carne que lateja.
O impasse de um coração que acelera.
A farpa na boca que blasfema
O desgosto amargo que tempera
A ardor do macho, a fragilidade da fêmea.
Sou o eco que o silencio evita,
O Clamor da prece redundante,
O incomodo das noites em vigílias
O despojo do amor itinerante...
Pros sábios, a inconcebível loucura.
Pros poetas, o ópio que vicia
O árduo trajeto a sepultura
De uma malfada poesia.
Sou a nascente do gozo,
A fim da fábula incompreendida
O sorriso falso desdenhoso
No disfarce da face dividida.
Sou o silencio da primeira inspiração
Onde pensamento principia.
O dardo que que fere o coração
Doce unguento, onde a dor ardia.
Vou da certeza a vacilação
Num milagroso instante
Oscilando entre o sim e o não.
Como o absoluto e o constante
Sou abstrato, palpável... sou o vento!
A sedução que te promove o cio
Promovendo o maior advento
Equilibrando a vida por um fio.
Sou a febre que te consome.
O nó que te sufoca a garganta
Não tenho nome ou sobre nome
Sou teu inverno, sua manta.
Sou a mágica que te faz crer
Na louca paixão que proponho
Sou a treva na lucidez de todo ser
Sou querer e poder...
Sou o âmago dos sonhos.
Marisa Rosa Cabral.