Leite Quente Sangue Frio
De quadra em quadra;
De bairro em bairro;
De porta em porta;
Vivia do branco, alvo, fresco.
Não tinha tristeza alguma
Vida, lutava não só por uma
Medo, nem mesmo do perecer.
Era ele o próprio ser que nasce sem saber.
Perdeu casa, filhos, mulher.
A família que mais bem queria
O mundo de sorte que progredia.
Homem de ações precoces
Vida de entorses, de gols acoplados.
Doença malvada tinha que matar um monstro por dia
Ao avisar do crepúsculo, saía às cinco, o consenso do tempo o trazia.
Era de longe o mais forte
Engano! Pai da morte.
Filho da vida, amante do amor.
Nome, Lemuel
Idade, 21 anos
Morador de São Paulo
Morador do Brasil
Pobre homem pobre leiteiro
Leite quente sangue frio
Usurpador, monstro de tal obra.
Fogo de brasas fixas, de permanência calculista.
Do trabalho voltou,
Abraço!
Não mais recebeu.
Havia sofrimento e dor
O tal do usurpador nem mesmo socorro prestou
Saiu sem medo assim como o leiteiro.
Pobre Lemuel pobre leiteiro.
Sua chegada foi embalada pelo sino das oito
Socorro! Incêndio!
Perdeu tudo: o mar de rosas, a vida enganosa.
A praça dos prazeres
Perdeu Estela, Vitória e Abarques.
A Ruth, meu Deus, tinha a lepra de um ateu.
Ganhou a maior das desgraças: a solidão
Vida de passageiro
Vivia agora do preto, do mal passado, do negro.
Pobre leiteiro, leiteiro pobre.
A aurora aqui é fogo se torna água
Não vira vinho, morre na metamorfose.
Leite quente este, sangue frio esse usurpador.
Pobre Lemuel suicidou-se.
Leite quente sangue frio
Morte do leiteiro, sangue frio do usurpador.
Por que enganos causam tanto dor?
Necessidade de leite quente,
Vida de usurpador.