Consulta ao oftalmo
Médico: - Diga, o que sentes?
- Doutor
doem-me os olhos de tanto ardor
vejo números e sinto-os inexpressivos
imbecil comedido
trabalho por conta
para pagar contas
que nunca pude supor.
Doutor
passeata de dentro de mim
afora
com propriedade e dissenso
aflora
que corro contra o tempo
e isso você deve saber:
é olhar demais
ou sentir de menos.
Doutor
que vejo o quanto vou sendo
e deixo de ser o quanto vou devendo
débito em aberto,
com a fatura fechada, com o saldo
a me saudar
vejo a dor de quem é de doer
mas contemplo,
perplexo
a modéstia de quem é de amar.
(...)
Tipo enrolado
com alguns baús de fundo falso
como todo fundo de gente que conheço
como todos aqueles construídos na Guerra Fria
que de tão gelada,
petrificou-lhe o coração.
(...)
Acho que estou melhor do que nunca estive. (?)
(...)
Diabo!
Talvez você não me ajude
ou eu esteja desperdiçando vosso tempo.
Minha dor não é de vista, nem mesmo de lamento.
É que desperdiço alegoria e não me contento.
Comparo um picolé a um jumento
tô vendo tudo mais próximo
como dar um passo para trás
mas ampliar os horizontes.
(...)
Por falar em aumento, como vai minha miopia?
Médico: - Amigo, por favor, queira se retirar?
- Claro. Aguardo o resultado lá fora?