Consulta ao oftalmo

Médico: - Diga, o que sentes?

- Doutor

doem-me os olhos de tanto ardor

vejo números e sinto-os inexpressivos

imbecil comedido

trabalho por conta

para pagar contas

que nunca pude supor.

Doutor

passeata de dentro de mim

afora

com propriedade e dissenso

aflora

que corro contra o tempo

e isso você deve saber:

é olhar demais

ou sentir de menos.

Doutor

que vejo o quanto vou sendo

e deixo de ser o quanto vou devendo

débito em aberto,

com a fatura fechada, com o saldo

a me saudar

vejo a dor de quem é de doer

mas contemplo,

perplexo

a modéstia de quem é de amar.

(...)

Tipo enrolado

com alguns baús de fundo falso

como todo fundo de gente que conheço

como todos aqueles construídos na Guerra Fria

que de tão gelada,

petrificou-lhe o coração.

(...)

Acho que estou melhor do que nunca estive. (?)

(...)

Diabo!

Talvez você não me ajude

ou eu esteja desperdiçando vosso tempo.

Minha dor não é de vista, nem mesmo de lamento.

É que desperdiço alegoria e não me contento.

Comparo um picolé a um jumento

tô vendo tudo mais próximo

como dar um passo para trás

mas ampliar os horizontes.

(...)

Por falar em aumento, como vai minha miopia?

Médico: - Amigo, por favor, queira se retirar?

- Claro. Aguardo o resultado lá fora?

Alexandre Bonilha
Enviado por Alexandre Bonilha em 20/01/2015
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