ESTRELA POR ESTRELA
Enquanto a privada engole a merda
E as pessoas cochicham como se fossem viver para sempre
Escondendo suas carteiras vazias
Suas palavras vazias
Eu fumo um cigarro no escuro
Sem medo da faca enferrujada que machuca meus olhos
Do carrasco invisível que gargalha da minha miséria
Sem medo de rejeições
Sem medo, incapaz de temer ou amedrontar meu relógio de pilhas
Sinto vontade de me apagar
Com um desses revólveres velhos que já não se fabricam
Com um desses remédios proibidos
Com uma dessas mulheres aidéticas
Os mosquitos não me deixam dormir
O meu vizinho de quarto nunca desliga a televisão
Ele fala com uma televisão de 7 polegadas
E sempre acorda gritando com pesadelos
Minha psiquiatra apareceu por aqui e disse que sou um ótimo escritor
Ela não gosta muito de mim, mas eu não ligo
Meu chefe não gosta da minha barba
Ele odeia minha magreza e o jeito como caminho
E disse que posso ser substituído até mesmo por um espantalho,
e que seria melhor para todo mundo.
Jesus, eu nem mesmo tenho um espelho
Para conferir se eles tem razão
Eu frequento o Restaurante Popular
E as pessoas que vão lá tem mais nojo de mim do que da comida
Eu fico escutando e vendo até suportar
Os dias são mais longos quando você percebe que sua vida encurta.
Tudo escurece e saio de casa, com receio do destino, com receio das esquinas, com receio dos automóveis, com receio dos meus ímpetos gestos de me salvar; com receio do próximo Papa, com receio da minha próxima namorada bêbada.
Sigo.
Invado o barulho com um soco ensaiado e
Caminho sozinho à noite catando bitucas
Com raiva da vida que não tenho
Olhando para as pessoas e não vendo nada além de mediocridade e sonhos assassinados pelas costas
Erguendo minha cabeça
Olhando para o céu sem nuvens
Repudiando estrela por estrela