ESTRELA POR ESTRELA

Enquanto a privada engole a merda

E as pessoas cochicham como se fossem viver para sempre

Escondendo suas carteiras vazias

Suas palavras vazias

Eu fumo um cigarro no escuro

Sem medo da faca enferrujada que machuca meus olhos

Do carrasco invisível que gargalha da minha miséria

Sem medo de rejeições

Sem medo, incapaz de temer ou amedrontar meu relógio de pilhas

Sinto vontade de me apagar

Com um desses revólveres velhos que já não se fabricam

Com um desses remédios proibidos

Com uma dessas mulheres aidéticas

Os mosquitos não me deixam dormir

O meu vizinho de quarto nunca desliga a televisão

Ele fala com uma televisão de 7 polegadas

E sempre acorda gritando com pesadelos

Minha psiquiatra apareceu por aqui e disse que sou um ótimo escritor

Ela não gosta muito de mim, mas eu não ligo

Meu chefe não gosta da minha barba

Ele odeia minha magreza e o jeito como caminho

E disse que posso ser substituído até mesmo por um espantalho,

e que seria melhor para todo mundo.

Jesus, eu nem mesmo tenho um espelho

Para conferir se eles tem razão

Eu frequento o Restaurante Popular

E as pessoas que vão lá tem mais nojo de mim do que da comida

Eu fico escutando e vendo até suportar

Os dias são mais longos quando você percebe que sua vida encurta.

Tudo escurece e saio de casa, com receio do destino, com receio das esquinas, com receio dos automóveis, com receio dos meus ímpetos gestos de me salvar; com receio do próximo Papa, com receio da minha próxima namorada bêbada.

Sigo.

Invado o barulho com um soco ensaiado e

Caminho sozinho à noite catando bitucas

Com raiva da vida que não tenho

Olhando para as pessoas e não vendo nada além de mediocridade e sonhos assassinados pelas costas

Erguendo minha cabeça

Olhando para o céu sem nuvens

Repudiando estrela por estrela

R A Ribeiro
Enviado por R A Ribeiro em 03/01/2015
Reeditado em 03/01/2015
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