BALADA DO FEIO.

BALADA DO FEIO.

De luto, dispo-me da vergonha da rejeição

Vago pelos bares entre doses de coragem

Indolente, ando pelas ruas da prostituição

À busca de minutos de amor com sacanagem.

Sífilis da vida, eu, verme digno dos azorragues

Escorro pelos esgotos da humanidade

Como fezes pelos canos em ziguezagues

Na volúpia de obter uma paz sem piedade.

Num corpo espicaçado pela feiúra

Quem pudera ter-me feito sem tal beleza

Porque dar-me o sofrimento e não a cura?!

Que do mundo tenho o chute por gentileza

Que do sublime sou tratado como epidemia

Morro a mil facas sob o abraço do travesseiro

Na cama que segreda os meus prantos

Na orfandade do lar, meu cárcere solitário,...

Que peçonha me tem! Eu não sou de minha autoria

Voto ao inquisidor que me queime como feiticeiro

Não sou filho de todos os seus santos,...

E rezo na igreja,... No altar do meu vaso sanitário.

Os sorrisos que têm como por profundo desprezo

São memórias que não se esquecem de esquecer

Nas vitrines da caridade, sem respeito sofro o peso...

Da moléstia que tenho dá-me o beijo em todo amanhecer!

Somente porto o contrato para espantar a tristeza

Valei-me Romeu que morreu com sua Julieta

Shakespeare!... Morrerei sozinho na sarjeta

Até que a humanidade,... Descabace essa fraqueza.

CHICO DE ARRUDA.

CHICO BEZERRA
Enviado por CHICO BEZERRA em 30/11/2014
Código do texto: T5053432
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