BALADA DO FEIO.
BALADA DO FEIO.
De luto, dispo-me da vergonha da rejeição
Vago pelos bares entre doses de coragem
Indolente, ando pelas ruas da prostituição
À busca de minutos de amor com sacanagem.
Sífilis da vida, eu, verme digno dos azorragues
Escorro pelos esgotos da humanidade
Como fezes pelos canos em ziguezagues
Na volúpia de obter uma paz sem piedade.
Num corpo espicaçado pela feiúra
Quem pudera ter-me feito sem tal beleza
Porque dar-me o sofrimento e não a cura?!
Que do mundo tenho o chute por gentileza
Que do sublime sou tratado como epidemia
Morro a mil facas sob o abraço do travesseiro
Na cama que segreda os meus prantos
Na orfandade do lar, meu cárcere solitário,...
Que peçonha me tem! Eu não sou de minha autoria
Voto ao inquisidor que me queime como feiticeiro
Não sou filho de todos os seus santos,...
E rezo na igreja,... No altar do meu vaso sanitário.
Os sorrisos que têm como por profundo desprezo
São memórias que não se esquecem de esquecer
Nas vitrines da caridade, sem respeito sofro o peso...
Da moléstia que tenho dá-me o beijo em todo amanhecer!
Somente porto o contrato para espantar a tristeza
Valei-me Romeu que morreu com sua Julieta
Shakespeare!... Morrerei sozinho na sarjeta
Até que a humanidade,... Descabace essa fraqueza.
CHICO DE ARRUDA.