Ato a sós
Lugar comum é não ter nada pra dizer
Eu me consolo com não ter que ter
A contragosto, sem o meu brinquedo
Com essa entressafra a me contorcer
Quem escreve parece que se devora
Lambendo a cria a cada parte exposta
Quem sabe isso pode ser uma forma
De inflar o ego que faz que não nota
Acho que pode ser o que se sabe
Tirar o que arde, suspiro, sangria...
Um alívio antes que já seja tarde
Uma gota d’água à ponta do pavio
Talvez uma concessão à liberdade
Ou mesmo impulso de puro egoísmo
Uma vaidade, um poder abstrato...
Algum retrato do seu paraíso
De uma coisa acho que estou certo
É estar perto sem se aproximar
Trocar sem que haja trocador por perto
Num ato a sós pra se perpetuar