Ser múltiplo
Creio-me cego de tanto ver,
Creio-me surdo de tanto ruido,
Creio-me insensível de tanto haver para sentir.
Como quero ser e ter um simples "eu".
Ser apenas natureza, como águas pela correnteza,
Sem pensar na vida e nas tristezas.
Mas entro pela casa de cada sentir alheio,
Num estudo que não posso evitar.
E em mim? E em mim?? Que sei de mim?
Sei apenas fingir que sou, fingir que sei.
Há uma legião de almas afins, retidas em mim.
Isto infingi-me ser poeta, para dizer do "eu que não sou.
Há uma obsessão mútua e anárquica de romper imposições.
De não ser apenas eu, perdi-me na lama do mundo.
Entre o sol e as dores crônicas do existir, sou quem? Sou o que?
Cesar Sema Pensamento