SEM PROCURA
Sem procura, ele surge em um toque
Se insurge, se insere em meu coração
Desafia meu ego, instiga minha mente
Revoam palavras surdas, ríspidas, indefesas.
Ah coração que palpita, tu não te cansas de me ensinar
Eu não aprendo os teus dizeres
Vou desafiando os vocábulos
Que se entornam, se contornam, se amaciam.
Sem procura, ele se instala por mais que meu coração me fale
Por mais que meu ser me alerte, ele clama do outro lado, e me ofende
Me arrebata, me conforma, me cativa, e eu rebato
Doce ilusão que teima em passear
No céu de minha mente tão viva, tão fraca.
Sem procura, vou indo até onde não sei-pra-onde
Até sentir a maciez de tua voz, a doçura de teu toque
O turbilhão que me envolve, me revolve.
Ah, doce estado de ser, sem ter o ser em meus braços
Às vezes tão fracos, às vezes tão fortes
Na sofreguidão de um momento, na ternura de um beijo
No compasso da respiração que ora se esvai em ais
Que teima em dizer vai, vai, sem saber pra-onde
Mas sabe que o êxtase extingue
O frenesi de meu corpo que treme num momento
E delira em outro.
.
Não, não paro com essa loucura
Mais inflama meu ser que as palavras oceânicas
Voando sem destino, nada é fortuito
Nem gratuito é o momento, meu doce tormento
Tão doce, tão leve e tão vivo.