ÚLTIMO ATO

Esqueço que sou alguém

Nem importa mais quem sou como pessoa

Não sei se fui feita por alguém

Consegui me dissolver e esquecer o que sou

Ainda não morri por causa do meu instinto de sobrevivência

Mas sei que a morte me cairia bem...

Sinto que minhas alternativas são parcas

E só me resta o cano do revólver

E o pé da cruz

Vou encenar o último ato e

Enlouquecer quem o assistir

Esqueço que sou alguém

Não importo mais quem sou como pessoa

Nem sei se fui feita por alguém

Consegui me dissolver e esquecer o que sou

Meu tempo não segue um fluxo contínuo

Não mais enxergo as coisas como as outras pessoas vêem

Verdades enlouquecedoras me desnudam

Mistérios profundos e escuros se apresentam

Coisas que me fazem esquecer que sou alguém

Esqueci a ternura das pétalas fúlvias

Da liberdade das borboletas

Da cândida e tenra luz da manhã

Vejo apenas o breu absoluto

O abismo que me chama

A morte que me sorri

Vou sorver o doce e suave veneno

A passos largos e braços abertos

Voar para a morte que me cai bem

Para esquecer de vez que sou alguém.

Carla Neumann
Enviado por Carla Neumann em 16/09/2014
Reeditado em 16/09/2014
Código do texto: T4963666
Classificação de conteúdo: seguro