BROTEI
Acordei pela manhã e vi que a minha vida tinha passado. Eu tinha envelhecido 6 anos em 6 horas. Levantei da cama de lençóis brancos amassados e senti meu corpo arrepiar-se com o toque dos meus pés no piso frio. Calcei umas meias remendadas e me dirigi à cozinha. Chegando, notei que o leite com achocolatado não satisfez o meu paladar. Tomei uma xícara de café sem açúcar e sem careta, sentei na cadeira de cor marrom quase pálido e me vi entretido com a pintura descascada da mesa desprendendo-se do móvel, assim como fazem os filhos em relação às mães. Lembrei da minha e saltei da cadeira em direção à sala. Peguei o telefone e disquei. A minha linha havia sido cortada. Lembrei da minha mãe novamente. Percebi não tinha me preocupado suficientemente com as coisas importantes de adultos. Sentei no parapeito da janela e comecei a admirar as flores do meu jardim mal cuidado de adulto. Aquela imagem me fez sentir uma tranquilidade que eu não me lembrava de poder sentir há muito tempo. Virei a cabeça para a direita e vi um ninho. Nele, havia dois pássaros piando, se declarando um para o outro. Aquele som me fez sentir uma tranquilidade… Percebi que eu havia amadurecido, percebi que havia chegado a hora, já estava suficientemente maduro.
Me joguei da janela. Caí e afundei na terra fofa do meu jardim mal cuidado. Não morri, pelo contrário: brotei.
__CARTARIA