Enquanto a Idéia Não Vem

Enquanto a idéia não vem...

Eu fico olhando para o alto

Sonho em vão, mastigo algo

Reparo nos gestos das pessoas e escrevo sobre isso

Desprezo outras idéias, acho tudo um desperdício

Eu percebo as horas passando

Eu desejo ser alguém que não fique apenas rimando

Eu sento-me à mesa de um bar qualquer

Peço uma, duas, três cervejas e seja o que Deus quiser

Eu viro e reviro o guardanapo

Busco inspiração até num tolo bate-papo

Eu mexo no cabelo, mordo a boca

Acho um absurdo quando fico assim e ainda me chamam de louca

Preencho meu tempo no telefone

Fico tão concentrada que perco até a fome

Estalo os dedos, penduro na janela

Percebo, pelo espelho, que não sou uma Cinderela

Enquanto a idéia não vem...

Mil castelos vão ruindo

Eu insisto em digitar, mas deveria estar dormindo

Fico feliz com a chegada do inverno

Agradeço aos céus pelo fim do calor, fim do inferno

Releio meus trabalhos da faculdade

E quase boto fogo nesse monte de bobagem

Eu imagino Fernando Resende como o nosso prefeito

Constato que só assim Mimoso tomará jeito

Penso que não uso a simetria do escrever, num esquema tático

Sento em frente à TV e acho patético o Fantástico

Enquanto a idéia não vem...

Eu pergunto: Hoje tem lua no céu?

Ninguém me responde, afinal, só estamos eu e o papel

Eu rôo as unhas da mão

Lembro que isso faz mal e cuspo tudo no chão

Enquanto a idéia não vem...

Escrevo sobre uma idéia que não chega, que não acontece

Só assim ela vira poesia e no Recanto aparece

E, para quem leu até o final essa bobeira

Eu faço até uma prece.

Renata Mofati
Enviado por Renata Mofati em 17/05/2007
Código do texto: T490265