FURÚNCULO

Eu nasci da luz de uma estrela morta
Nasci misturado na hulha
destilado na dor o que era eu?
Nem sombra e nem luz
Fui (ainda sou) breu...

A própria escuridão sempiterna
amolecendo a borra da tinta com a saliva
escrevendo minhas poesias em uma caverna...

Cansado deste “eu” escravo dos sonhos
cansado das noites frias e dos beijos ingratos
uma faísca de esperança fiz brilhar como sol
deixei para trás uma coleção de aparatos...

Tenebrosos gritos silenciaram
um “eu” escultural acomodou meu espírito com pericia
um encaixe perfeito, uma cama de plumas macias...

Como a junção perfeita dos íons metálicos
nasce o complexo em meio de meus antigos farrapos
e ontem existia o “eu” e hoje diante o que me tornei
não existe ninguém...

E o mundo parece um grande teatro
E eu uma grande edificação nascida da juntura perfeita de tantas partes
eu sou uma pena esquecida, o nanquim derramado
um personagem apurado... Um suspiro de arte...

-E nessa peça de dois atos...
Eu era “eu” quando eu era você
Perdoe-me alma eu ainda não sei ser
Finjo que não sou “eu”
e enceno o papel do que deveria ser...
Ou finjo que sou você
para encenar o que não deveria ser?
O que sou subjugado é ao que não sou
e o que não sou é um conjunto do que todos devem ser
no fim não importa...
Se eu sou eu, ou se sou você...

Gosto deste arranjo
de como cada “coisa” encontrou um lugar
se fiz não lamento, pois essa entropia, faz a mesa feliz!
A mesa onde muitos se pões a celebrar
confesso que a questão “ser ou não ser”
é um furúnculo em parte ingrata a latejar
sou feliz e celebro também, só não posso sentar...




 
Noah Aaron Thoreserc
Enviado por Noah Aaron Thoreserc em 12/06/2014
Reeditado em 12/06/2014
Código do texto: T4842324
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