A dependência

Talvez um corte suave para deixar escorrer

e ter tempo de estancar

Alguns frascos de comprimidos para ajudar a dormir

e navegar por sonhos e deliciosos pesadelos

Uma discussão na hora do jantar ou se afundar no sofá para deixar o dia passar

Um devaneio embriagado que permita sorrirmos um pouco

Algumas gramas de entusiasmo liquefeito

um cachimbo, uma ponta, um murmuro do fundo da alma

Talvez um pouco de realidade transviada, transformada, transfigurada?

Um sermão exarcerbado, um rito, uma toga apodrecida

mofada

Que tal um pouco de medo do escuro ou a euforia do desconhecido?

Esqueça tudo numa tragada passageira

num desmaio epiléptico

Nessa demagogia patética

Nas minhas mentiras traiçoeiras e rastejantes

Naquela maldita árvore, no limbo de nossas escolhas e fobias

Um pouco de paz para deslizar até sua cama

Lhe amaldiçoar ameaças e nos sentirmos vivos

Em mais um dia que a morte se aproxima,

Buscamos ao menos um consolo rentável

A poesia enfurecida.

Marco Darski
Enviado por Marco Darski em 19/04/2014
Reeditado em 17/12/2021
Código do texto: T4774378
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