Armazenando Verbo nas Paredes
A ti confesso que é o muro de minha admoestações
Daquela fala sozinha e relutantes lugares comuns...
De seu fatigado arremedo-tijolo caiado embalo fatos
E te digo aos tonteios que vós é mudo e irritante...
Eh, te falo segredos, fome, devagares caminhadas
Sujo as mãos em bater-te com a fúria encarniçada
Na mente a razão escapa e o todo se perpetua...
Um vácuo de ideações sublimes faço-te escutares
Este louco lhe és conveniente na solidão amurada
Lamúria escutas e a nada me recusa ouvir silente
Se julgas que sou um perdulário de palavras vãs
Comete tu mesmo o erro de um mutismo insolente!
Ao arriscar o verbo em desgaste fico a te embalar
Num gemido, uma bravata, uma insanidade deserta
Falando-te das maravilhas da alucinação amputada
Palavras sem vento, sem gosto e tudo que te digo
Tais paredes, mui ornadas, de papel parede vazio
Me auscultam mais do que ouvindo através delas
Ouvem de mim a luna samotrácia de um doente vil
Antigas frases não ditas mas agora mutáveis rimas
Sou a tua, o teu, o irmão a caçoar de suas faces
Bendizendo, ao céu ilustre, por tão ouvinte calmo!
A paciente inconteste de meus rancores e amores
Nada surda ensimesmada com o louco debate bis
Repito contigo a jura de quem vive o delirante ar
Embarcado que sou em uma Lua que enlouquece
E de ti, a cada bocejar, empresto o sorriso casto
Sou teu, sua, o que quiser e terá de me escutar!
Parede minha, meu redentor, escutas a confissão
De um alienado racional em um mundo deserdado
Amalucado em um trono a vista de teto e colinas
Tentando achar no Sol o cemitério de meus pais!
Vinde a me ouvir e quedarei ausente desesperado
Um tanto a dizer-te façanhas de meu labor audaz
Encantado num Universo desencantado do falar...
Perdido estarei senão ouvirdes os meus enlevos...
Não faça-me gastar um tempo cansado revoado
As coisas ditas que de minha lavra sempre ouves
As outras tantas de uma cantilena que te deseja
Aqui ao lado em casa sem teto, à sós a discursar
Se estou a perder um siso me poupes do vexame
Assim tão moço sem a morrer discursando prazos
A sempre corrigir o deserto enfermo de meu ouro
Cavando em ti, por ti, honorável arremate prédio!
Das paredes ao edifício que sustentas, sempre...
Eu fico a lhe fazer ouvirdes sem cimentar a base...
Fico a clamar em vozerio útil sua certeza auditiva
Esperando, afinal a resposta ao curso descoberto!