DO FUNDO DO POÇO.
DO FUNDO DO POÇO.
Trevoso, deambulei pelo meu eremitismo
Condenei-me a uma ignorância por repulsa
Por desprezo e por dó aos da mesma raça...
Não li! Não escrevi! Estiolei meu pragmatismo
E prostrei-me ante essa sociedade convulsa
A esse mundo administrado pelo dolo, e ameaça.
Deixei a calva e nívea barba por fazer,...
Os cabelos brancos brotaram à velocidade da luz
Minhas mãos ergueram copos de felicidade
Usei drogas que somente a ANVISA tem esse prazer
Pugnei com o palor do círio brandindo minha cruz
E o ateu, tritão, tumbal, sepultou sua ambiguidade,...
Esterilizou sua mente da hipocrisia social
E vomitou,... Crível, os embustes paliados pelos reis
Num dom-quixotismo suicida de grã beleza
Mas que velou meu corpo num estado nosocomial
Onde fígado, coração e músculos agiam sem leis
E onde o voltairiano clown é bactéria da sua nobreza
Volveu às vascas da agonia,... Nos dejetos humanos.
Êxul da escrita, da literatura e dos amigos à conta gotas
Busquei o Edelweiss para os jardins de todo mundo
Porem o metal transformou o puro, em levianos
E o amor, a saúde e a educação floraram escrotas
Então, o misantropo solidou que o homem é nauseabundo
E entregou-se a berceuse de Brahms com fastio
Smorzando as palavras hidrofóbicas das promessas
... Feitas pelos que domam o poder como Cérbero
Donde a justiça do inferno absolve o doentio
E o pobre é condenado às contribuições perversas,...
Roma um dia despertará um novo Nero!
A degradação orgânica é nossa única herança
Torno com disortografia festejando a burrice
Empanar a realidade é sofrer menos a quem dela se atém!
Seres humanos vis poluem esse universo em desesperança
Tanto que a vida só é boa quando confortada pela morte
Ao menos entre os vermes não veremos tanta canalhice
Meus ancestrais não ouvirão meus gemidos e nem amém
Pois sou filho da terra, e é dela que obtive esse passaporte.
CHICO DE ARRUDA.