Vício e Virtude
Inspiração? Inspiração?
Some daqui, concubina viciosa!
Pensas que me escraviza?
Pensas que me ata com tua
Falsa promessa de glórias?
Não preciso de ti!
És um vício! Uma prostituta!
Vai te vender a quem te mereça!
Teus gemidos... Ai! Aqueles
Doces gemidos frívolos e cheios
De encantos.
O que esperar? Que operes por mim?
Que faças o meu trabalho?
A única glória que há é minha labuta.
Tudo, absolutamente tudo
Tem seu custo. Minha glória custa
Meu suor que corre às faces,
Oleia meu couro, lava meu sangue...
Teu presente há de me custar
Minha dignidade, meu valor;
Minha obra não é minha: é tua.
Não mais esperarei por ti.
Não mais ficarei ansioso
Por aparecerdes ou não.
Farei tudo só. Com minhas mãos,
Minha mente, minha dor...
Morre! Por mim, há de morrer de fome
E de frio, na solidão.
És uma doença, uma úlcera
Que me corrói as entranhas.
Morre, pedaço de mim, morre,
Morre, porque não mais te quero!