NOTURNO

É uma absurda, aguda madrugada,
Girada ao avesso, eu mereço?
Uma imprecisão, uma solidão acumulada,
Um eu que tento, mas,  não te esqueço.

É o ego em inconstante conflito,
Um agito no meu universo interior,
A vontade de me libertar, de soltar um grito,
De abrir em voo o infinito - transpor...

É o olhar atento, o ritmo lento dos ponteiros,
Um tique taque maçante, irritadiço,
Um desencontrado, alternado roteiro,
Isso sendo aquilo, aquilo sendo isso.

É uma sensação profunda de desamparo,
Um deserto tártaro que na alma vem,
Um cinzelado, solitário lábaro,
Ostentado para ninguém.

É o meu corpo em estado urente,
Denudado, necessitado do corpo seu,
Um martírio, um delírio indecente,
Um inconsequente noturno que me envolveu.

É a loucura pondo a mão na mina cabeça,
Sou eu dizendo para o dia: - amanheça!