Ensaio sobre a loucura.

O bem e o mal se abraçaram em amor intenso;

Com as suas chamas côncavas e convexas.

Beijos mortais involuídos; bandidos e amados ódios;

Da tese e da antítese dos mais sombrios segredos,

Jorravam gozos saltitantes, roucos e estridentes.

A síntese era eu e a minha guerra com os meus medos.

A razão babava trôpego e viscoso sangue

Por entre os dentes afiados, cínicos e insolentes.

Ignorava os duetos e tercetos dos cânticos da fadas;

E da agonia sonora dos gritos agudos dos duendes.

Por que brincas com a loucura de quem não tem

Nenhum domínio sobre a própria vida;

Tampouco sobre as circunstâncias que rondam à revelia?

Não vês que persegues a insalubridade;

Enquanto ela ri com o mais puro e humano desdém?

Já que não tendes a solução definitiva para o pranto,

Dá-me, por enquanto, o direito de ser louco!

Quero vomitar palavras sem cor, sem sabor;

Sem o insípido tom dos mistérios da visão,

Que me apresenta apenas a casca das coisas que são;

Escondendo o âmago para o seu próprio deleite,

Fazendo-se a si mesma, juiza da arbitrariedade dos signos.

Quero arrancar, com os dentes, os pelos pubianos

Da verdade que dança nua nos poli dances da vida

Neste cabaré que é a existência humana.

Na terra de quem não vê, quem tem um olho se espanta

Com a dor do brilho das coisas que cegam;

Por isso, quero brincar de esconde-esconde

No sinistro labirinto das letras maltrapilhas de Saramago,

Ser mais um mago renitente e dissimulado

No palco onde se pratica o não referido ensaio.

carlinhos matogrosso
Enviado por carlinhos matogrosso em 03/01/2014
Reeditado em 25/03/2014
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