Ensaio sobre a loucura.
O bem e o mal se abraçaram em amor intenso;
Com as suas chamas côncavas e convexas.
Beijos mortais involuídos; bandidos e amados ódios;
Da tese e da antítese dos mais sombrios segredos,
Jorravam gozos saltitantes, roucos e estridentes.
A síntese era eu e a minha guerra com os meus medos.
A razão babava trôpego e viscoso sangue
Por entre os dentes afiados, cínicos e insolentes.
Ignorava os duetos e tercetos dos cânticos da fadas;
E da agonia sonora dos gritos agudos dos duendes.
Por que brincas com a loucura de quem não tem
Nenhum domínio sobre a própria vida;
Tampouco sobre as circunstâncias que rondam à revelia?
Não vês que persegues a insalubridade;
Enquanto ela ri com o mais puro e humano desdém?
Já que não tendes a solução definitiva para o pranto,
Dá-me, por enquanto, o direito de ser louco!
Quero vomitar palavras sem cor, sem sabor;
Sem o insípido tom dos mistérios da visão,
Que me apresenta apenas a casca das coisas que são;
Escondendo o âmago para o seu próprio deleite,
Fazendo-se a si mesma, juiza da arbitrariedade dos signos.
Quero arrancar, com os dentes, os pelos pubianos
Da verdade que dança nua nos poli dances da vida
Neste cabaré que é a existência humana.
Na terra de quem não vê, quem tem um olho se espanta
Com a dor do brilho das coisas que cegam;
Por isso, quero brincar de esconde-esconde
No sinistro labirinto das letras maltrapilhas de Saramago,
Ser mais um mago renitente e dissimulado
No palco onde se pratica o não referido ensaio.