Clausura
Talvez seja deprimente,
talvez não.
Pode ser o uísque sem gelo
me deixando neste estado letárgico.
Depressão.
Um barulho de vento no coração.
Tanto esforço na recuperação.
Em vão.
É em vão o psiquiatra,
as frases escritas na calçada
as flores no vaso pela chegada
as festas
o sexo sem cuidado
o orgasmo gritado, descabelado, unhado.
Já não servem pra nada
os lençóis
a cortina
a luz vermelha.
Depressão.
É um anjo vingador
sentado no fundo dum corredor muito
comprido
por onde passo com
passos claudicantes.
Vou tateando a parede
procurando o interruptor e
o que me guia é a brasa
do cigarro que esse anjo fuma.
A luz de uma vela colocada
na parede acima de sua cabeça.
Preciso acordar logo desse
pesadelo.
Quero sair correndo,
gritar por socorro,
mas uma mão invisível
me sufoca
impede meu grito.
Rasgo as roupas e minhas unhas
me machucam.
Preciso achar a porta.
Preciso sair logo para a luz
e encontrar novamente a paz.
Talvez seja o tédio
talvez a tequila que me dá náuseas.
É a depressão
que inunda minha vida
sufocando minha alma
impedindo meu vôo para o alto
sempre para o alto.
Para a luz.
Para onde está a luz!