Lisboa nua.
Putas de uma triste memória.
Muitos Anos a trás, no Natal,
Lá por casa fez temporal,
A consoada finda,
Família desavinda,
Bato a porta, salto o portão,
Peito vazio, fujo sem fé...
Só o cigarro preenche a vazão.
Quem pensa não é quem é...
Muitos Anos a trás, é Natal,
No Bairro Alto, baixo astral,
Bares fechados, rua deserta
Tenho um'alma p'ra oferta.
Largo Camões, olho o poeta,
Lisboa... Rainha do planeta,
Gente... finalmente! Cais-do-Sodré,
Putas!... também são gente não é?
Muitos Anos a trás, foi Natal,
Paguei uma conversa banal...
Subi ào Chiado, Brasileira.
O bronze do Pessoa na cadeira!
Fiz-me de conta ser alguém,
Fitei-o sentado e perguntei:
Diz-me lá! Aquilo que não sei...
Se fingir não é sentir também?...
Nota de autor: A Brasileira é uma pastelaria muito importante em Lisboa na zona do Chiado onde na esplanada se encontra uma estátua em bronze de Fernando Pessoa sentado numa cadeira e mesa em bronze também (Pessoa era cliente assíduo dessa pastelaria).