SOLILÓQUIO.
SOLILÓQUIO.
O céu ronca acordado, seus sons de pavor
A eletricidade rasga-o aplaudindo com brilho
Seus matizes de azul e branco agora são negros
Verte-se em choros oprimidos e instantâneos
Estradas d’água lavam e levam-nos sem tirar nem pôr
Nossa irrealidade acendeu esse rastilho
Transformou-nos em insignes ônagros
E as leis selváticas ruíam-nos extemporâneos.
Meu muro foi ao chão, úmido e fraco
Como a aguadilha de ignorância de quem fez-lo
O cão vizinho e amigo, solta seu ladrido de adeus
Seguro as velas e a lanterna aguardando a escuridão
A brisa perfuma o tempo e ata-nos nesse buraco
Esse clima inflama mais o nosso desmazelo
Onde a pocilga de humanos clama ao seu deus
E pede ingrato, piedade por sua inaptidão.
Janto meus restos de miséria no prato da vergonha
Como meus irmãos e me junto ao clã dos amaldiçoados
Num dos meus sobrenomes carrego minhas desgraças
Exilei-me da hereditariedade com prazer e carinho
Fiz-me um solitário transeunte da minha peçonha
Fui-me a todos os tártaros, e vi os embustes vitimados
Toda essa vida é uma fraude! Vivemos nessas trapaças
No jogo que mais enriquece o bem mesquinho,...
E com a calúnia de termos a majestade do universo
Donde a calamidade da sem-vergonhice prepondera
E voa de geração em geração na ampulheta do holocausto.
Meus solilóquios despertam-me da insanidade
E no subúrbio da mente, com trêmulas mãos, converso
Oh! Vis dez ossos desse esqueleto que me sidera
Porque escreves versos insolentes? – Sou cria do poeta infausto
E cadáver que sou,... Risco folhas, com sua perversidade.
CHICO DE ARRUDA.