A morte dos deuses
Somos uns lindos como a flor.
Um amor de graça e pudor...
Porque é que não estamos em pedestais?
Somos muitos e somos demais!
Cortamos as cabeças dos nossos deuses,
As servimos em bandejas douradas;
E soltamos fogos de artifício. De arte e ofício...
Os degolamos, queimamos em foguerias,
Pregamos em cruzes de madeira,
Tanto eles, como seus filhotes vitelos,
Servimos às feras como prato principal.
Depois os criamos em feriados,
Desde que sejam de barro. E calados.
Festanças dançantes, à luz de vela.
Os velamos em casebres, manções e favelas.
Velas, bebidas fortes, música ruim,
E iguarias que não tem fim.
Dizemos nós, os da melhor cultura:
As mina pira. Cai e pira. Caipira.
Até a D. Jandira cai na catira.
Agora nossos santos são como flores;
São de plástico e não morrem.
Aquele do natal então... Deus dó.
Judiamos dele o quanto deu. Judeu...
Quando o vinho cobre a moleira,
E o peru está farofado entre os dentes,
Bradamos intrepidamente. Insolentes:
Meu Deus! Esse é o meu Deus!
Quem o matou foram os farizeus!
Os saduceus, os filisteus. Não eu.
Tentei matar meu Prometeu. Mas não deu.
Mas é claro que eu seria abençoado.
Eu teria matado um deus ateu...
Carlinhos Matogrosso