A revelação dos segredos
Em certo dia incerto
Os segredos saltam das tocas.
Tinham a cara do cinismo
E o sorriso de todas as quimeras.
A maioria deles estava
Escondida nos falos e nas falas.
Nos talos e nas talas;
Tanto nas pequenas e estreitas
Como nas rotas e alargadas,
Que eles mesmos chamaram de
Cavalas e enganosas, cabalas.
Andavam soltos pelas alas,
Pelas salas que ficaram ralas,
As crianças riam de dar gosto;
Os adultos, envergonhados,
Não tinham onde esconder as caras.
Os segredos mais sacanas
Vinham dos idílios; dos pais,
Das mães, das filhas e dos filhos.
Dos cemitérios, os sérios...
Revelavam-se vivas testemunhas
De torpeza e de adultérios.
Das casas dos juízes surgiam aos montes,
Mas não riam que nem condenados;
Eram segredos recalcados.
Da casinha da árvore, das bonecas,
Saíam dançando e pulando!
Eram os segredos mais sapecas.
Os políticos, nas tribunas, tinham
Todos caras de lula. Encabulavam
Até o capeta que viveu na feira.
Eram segredos ricos e cheios de pompa,
Mas traziam na bagagem
Toda a pobreza revelada e relevada.
Mostravam-se de mãos dadas
Com a verdade nua e crua
E, pasmem senhores, em plena praça;
E não atentavam contra nenhum pudor.
Da igreja, saltitante e felizes,
Saltavam os segredos da inquisição
Que a muito eram prisioneiros da fé.
Os padres e os pastores cavaram buracos
E colocaram suas cabeças, feito emas.
Mas esqueceram de cobrir as bundas.
Foi estampado nos anais, nos jornais,
E em tudo mais que havia,
Que as mulheres mais sérias,
Eram as que brincavam de madame Bovary.
Também vi meus sonhos medonhos,
Pareciam de brinquedo.
Mas dos meus segredos eu não pude rir.