Teu Carmim Profundo
Minha alma está manchada.
De tanta tinta,
De tonto vinho.
Tinta incolor,
Que escorre de meus olhos,
E transforma meu rosto em arte.
Minha alma, delicada.
Trincada por suspiros,
Trancada em cortiços.
Meu olhar distante, confirma
A entrega não aceita,
A rejeitada aflição,
De um pedir, sem perdão.
Sumiço.
E a tinta escorre, e mancha.
Marca cada palavra entoada,
Acentua cada ânsia enojada,
De um errar, sem quase acertos.
Correções.
Minha alma então manchada,
De espessa tinta nobre,
Expressa tonalidade cobre,
Dilacera embalagem, pobre
Derramando tons de medo e fúria,
Sobre um mar de azuis fins,
Da boca ruge aos fracos rins.
Tanta tinta,
Tanto tento,
Mas sem tempo,
Sinto medo.
Absorvo os sons,
E me entrego, claro
Aos tons pastéis,
De teu carmim profundo.
Acromático que sou
Vivo livre, sem ser visto
Atormentado, sem dor.
Quem me dera ter seu corpo,
Afundado num rebuscado esboço,
Atirado em transparentes braços,
Sem matiz, nem brilho
Perdido no castanho caminho,
Dos meus olhos em cor,
Rasgado temor.
E minha alma, em manchas,
Sem alternativas, nem andanças
Se perde entre fatais cores,
E emerge, em sutis desamores.
Infeliz matiz,
Na qual fiz meu fim.