Teu Carmim Profundo

Minha alma está manchada.

De tanta tinta,

De tonto vinho.

Tinta incolor,

Que escorre de meus olhos,

E transforma meu rosto em arte.

Minha alma, delicada.

Trincada por suspiros,

Trancada em cortiços.

Meu olhar distante, confirma

A entrega não aceita,

A rejeitada aflição,

De um pedir, sem perdão.

Sumiço.

E a tinta escorre, e mancha.

Marca cada palavra entoada,

Acentua cada ânsia enojada,

De um errar, sem quase acertos.

Correções.

Minha alma então manchada,

De espessa tinta nobre,

Expressa tonalidade cobre,

Dilacera embalagem, pobre

Derramando tons de medo e fúria,

Sobre um mar de azuis fins,

Da boca ruge aos fracos rins.

Tanta tinta,

Tanto tento,

Mas sem tempo,

Sinto medo.

Absorvo os sons,

E me entrego, claro

Aos tons pastéis,

De teu carmim profundo.

Acromático que sou

Vivo livre, sem ser visto

Atormentado, sem dor.

Quem me dera ter seu corpo,

Afundado num rebuscado esboço,

Atirado em transparentes braços,

Sem matiz, nem brilho

Perdido no castanho caminho,

Dos meus olhos em cor,

Rasgado temor.

E minha alma, em manchas,

Sem alternativas, nem andanças

Se perde entre fatais cores,

E emerge, em sutis desamores.

Infeliz matiz,

Na qual fiz meu fim.

Flavio Marcondes
Enviado por Flavio Marcondes em 14/10/2013
Reeditado em 08/04/2014
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