LOUCO QB

Sei lá…

Às vezes não sei dizer o que sinto,

nem me apetece mostrar o que quero.

Fico apenas a boiar à tona dos meus enigmas,

decifrando os arabescos com que escrevo nas nuvens

os gestos que não concretizo

e a ocultar nas sombras o que a luz evidencia.

Sinto dores, sim!

Apraz-me saber que há um longe a gritar

por mim

e uma memória a querer abandonar-me…

Rio por saber que ninguém se dói

das dores que engulo, galgando o nó

górdio que se forma na garganta!

E quando assim rio, pareço louco.

Mas eu sou louco!

Quem de vós não é, ao menos um pouco,

louco, como eu sou louco?

Quem de entre vós, os que sois sãos e coerentes,

nunca se deixou afundar na magia da absurdez

para sentir-se livre e liberto

das amarras duma vida sadia?

Nunca? Nem sequer uma vez?

Como estais velhos, oh vós que em surdina

vos guardais do turbilhão das madrugadas

e acordais na docilidade dos lençóis amarfanhados

com olhos inchados das lágrimas retidas

e um sol pendurado no avesso dos vossos

desatinos.

Rasgai as cortinas!

As pesadas grades rebentai!

Os idílios de faz-de-conta lançai para longe!

Se alguma vez eu me souber definir

dir-vos-ei quem descobri em mim.

Entretanto vou por aí,

ajoujado ao meu simples modo de ser,

louco quanto baste.

Em 22.Set.2013

PC