Maldita profecia
Em verdade voz digo:
Guardará o varão, em seu bolso,
No banco e nas coisas valiosas,
Toda a beleza interior que conseguir.
E certamente será contemplado;
Casará muito "bem" e terá uma vida feliz.
Todo aquele que não possuir
Essa valiosa beleza
Será estuprado pela vida;
Condenado a vagar;
Pisar sozinho o lagar
do feroz vinho da solidão e da quimera.
Terá que se tornar pagodeiro,
funkeiro cantor sertanejo
Ou jogador de futebol do Barcelona.
E lembrai-vos:
O caráter dessa beleza
Pode ser facilmente detectado
Pelo eleitorado feminino
E sua busca pelo ser ideal.
Mas o caráter propriamente dito,
Aquele responsável pela segurança
E felicidade dos povos,
será acariciado apenas e tão-somente
Em poesias, músicas, sermões
E nas tediosas palestras educativas,
Nas quais os seres dormem.
Nem os pastores, padres,
Bispos cardeis e Papas, coroinhas,
Beatas, conselheiros, pais-de-santo,
Gurus, rabinos, feiticeiros
E focalizadores a conhecerão;
Sem que, primeiro abdiquem-se da outra:
Do bolso, do banco e das coisas.