Se eu fosse louco assim
Normose
Se eu fosse louco assim.... Ai de mim.
Veria todas as novelas sem fim...
Globalizaria-me até à cueca;
Contaria piadinhas normais,
Acalanto para os teus ais.
Ouviria a tua música e rebolaria
Feito uma marionete empedernida;
A colocaria diante das crianças
E criaria milhões de biscatinhas
E valentinhos, crentes e católicos.
Depois, de cara lavada,
Cobraria o dízimo para vender
A tão sonhada salvação;
Ficaria diante da deusa cinzenta
Que conta com a minha ignorância
Desde o canto da sala até
O mais profundo do meu quarto.
Se eu fosse louco assim,
Te xingaria nas rotatórias
Quando tu, com teu filho engarupado,
Me ultrapassas pela direita,
E, de modo inconsequente, me olhas,
Pronto para devolver-me as palavras.
Tu, com a tua normalidade
Esqueceste o principal
Que isso não é bossa-nova,
Nem parece ser muito natural.
Se eu fosse louco assim,
Eu fumaria tranquilo
Toda a fumaça do teu cigarro.
Mas não, eu fumo e me desgraço.
Não durmo direito, perco o prumo.
Cheiraria a fumaça de óleo diesel
Nas caminhadas vespertinas
E diria, com os pulmões cheios de ar
Presumidamente "puro":
Nada como espantar o sedentarismo...
Se eu fosse louco assim,
Fumaria todas as drogarias
E cairia de quatro diante do teu deus;
Aquele que tu gritas nas praças,
O que cria tudo e depois queima,
Só para poder rir da fumaça.