Para você não entender
Sei que não vai me entender
Esses sentimentos loucos pintados a óleo.
Na tela do presente.
As cores berrantes incendiando a visão
E, o cheiro de pimenta no ar
Temperando um paladar ainda virgem
Sei que não vai me entender
Cada um incorpora, a seu modo,
um enigma, uma metáfora,
e uma promessa
de não se abandonar...
de não engavetar os sentimentos
Feito abortos em dia de sangria.
Na gaveta secreta do abismo
Ou no ralo óbvio da falta de tempo
Na barra de meu vestido branco
Essas pernas me atrapalham.
Aqueles saltos a desafiar uma
elegância claudicante
Um sombrio sopro de esperança
paira no fim do inverno
Amornando um coração vazio.
Sei que não vai entender.
Suas palavras doces.
Melodias impossíveis
A minha firme surdez
Errante.
Um abraço forte na despedida,
cadeado da alma perdida
Que voa correndo
Para o fundo do corpo.
Sei que não vai entender
Os mistérios,
as nuvens e nem a chuva.
Era tempo de plantio.
E não de coleita
Era tempo ido.
E, não de profecia.
Sei que todas essas palavras,
esses versos,
Sem rima, sem nexo
São rabiscos semânticos
São lágrimas não vertidas
Dores ausentes do corpo inerte.
Revelam a presença da ausência.
Ou a ausência presente do fim de tudo.
É a culpa que me dá
Por não saber explicar.
Explicar o que exatamente passou.
O que ainda há.
O apenas é lembrança
Passando na parede da memória.
É um filme nostálgico apenas.