MEU DIÁLOGO COM O FIM
MEU DIÁLOGO COM O FIM
Dou-te como autógrafo um spray dos meus pensamentos
E eles condenam-me à morte por obter tais conhecimentos.
Digo ao fim que sou feto de razões e das revoluções científicas
E obtenho em resposta que ostento doenças psíquicas
Que sou o gene mais mal parido dessa humanidade
E prenhe de juízos pseudo-intelectuais desgraçáveis.
Arrasto-me, Zé-da-véstia, na lama da minha racionalidade
Agarro-me, frigido, em paredes que me olham amputáveis
E sinto que dessa sociedade plurilateral, sou a choldra da raça
Um desambientado com nitroglicerina no sangue.
Sou a poeira estelar num universo de bumerangue
Filho das miríades de abismos sóbrios de cachaça
Das letras humanas sou canção subjetiva do descalabro
Mas não compactuo silente da evolução do macabro
Que desde a pré-história o homem é um presente frívolo
E a passos de lesma voa no seu vaidoso ar flamívomo.
Diz-me, o tal, que somos descartáveis por excelência
Por nossos atos vândalos, por adocicar nosso egoísmo
E que nenhum céu a de sublevar-se por nossa prepotência.
Percebo-me na obrigação de concordar com meu ateísmo
Pois o ensinamento arcaico de velas acesas em sepulturas
De imagens de anisomorfia e de joelhos dobrados à surrealidade
É-me dor no batismo, na crisma, e na reza de vacuidade
E nessa cruz de tantos assassínios, avultamos vis esculturas
Quer-se a mim! Então me leve com todo o seu carinho
Contaminar-te-ei na sua raiz e com a minha peçonha
Por saber que da sua existência fui conluiado como padrinho
E vou fazer de sua vida-morta, muita poesia sem-vergonha.
CHICO DE ARRUDA.