Insanidade
Eu não posso continuar com isso
Com tanta esperança
Com olhar de criança
E com as mãos em varal
Esperando ventos e gestos
Eu não posso perpetuar essa espera
Com tanta angústia
Encharcada de melancolia
De tristeza fonética
Ou de lirismo mortal
Eu não posso ver e continuar a querer
O simplesmente impossível
O inatingível
O inalcançável
Umbral do que poderia ter sido.
Mas não foi.
Outras escolhas traçaram o mapa.
Outas opiniões pintaram o quadro.
Outras pessoas habitaram o
paraíso e o inferno.
Não tenho a força de antes
E nem sei se quero a força
Se tenho a poesia
Se tenho a sutileza
das reticências
Que rimam
com as reminiscências
Eu não posso fingir
Que o tempo não existiu
E retirou de nós
O lugar, estória
E o enredo.
O script já fora escrito.
Lemos e gaguejamos
Erramos
E continuamos
num protagonismo solitário
e sobrevivente.
Encontrei esquecido
O rascunho
Onde fomos felizes
Mortalmente atingidos
por nossa insanidade.