AMNÉSIA DA MISÉRIA
AMNÉSIA DA MISÉRIA
Dos beiços que bramem voz da mioleira
Nervos psicopatas comandam gestos
Estrumados nos açougues da existência
Expõem a amorfia ubíqua dos corpos
Nos reflexos narcisísticos da guapa caveira.
Sorriem cáries nos dentes luzidos em restos
Incha na boca a língua o mascar da violência
Do carnívoro à mesa, comendo como porcos
As vísceras reagem no estômago vinagrento
Às irmãs salivadas em gulosar indômito
E vem da laringe ao esôfago a azia do vômito...
... Na anfigonia de um humano virulento.
Na elementar necessidade de propagação
Espectros antegozam o sêmen da aberração
Na criopreservação de óvulos imorigerados
Constroem o medonho orbe dos viciados
Onde o futuro será um passado presente.
Pústula maligna, poeta dos meus aneurismas
Da placenta! Réu confesso do indecente
Vejo a realidade afogada noutros prismas
Na epopéia de báquicos semeando virtudes
E da sobriedade, virgem de mais malucos.
Quando as carnes descobrirem seus ossos
O teu conúbio com a terra gerará parasitas
E num eclipse, enterrará suas magnitudes
No apocalipse da vaidosa ereção de eunucos
Saboreiem o doce neuroplasma dos insossos!
As obscuras merecem essas gentes esquisitas.
A morte é um ato hediondo de vida
Onde tornará ao estado de antimatéria
E nada mais levará na despedida,...
Que a amnésia do seu convívio com a miséria.
CHICO DE ARRUDA.