RUMOS E RANÇOS

RUMOS E RANÇOS

Manchas, marcas, cicatrizes

Tempos, momentos, passagens

Numa vida sem raízes

Curtida em muitas paragens

Recordações sem saudades

Mentiras e algumas verdades

Nenhuma delas sagradas

A maioria profanadas

Retratos em molduras

Um x de alegria

Tristezas puras

Longos e intermináveis dias

Dores lancinantes

Gargalhadas em rompantes

Nada mais será como antes

Nos quartéis de Abrantes

Foi-se a esperança

Tida quando criança

Nas sofridas e marcadas cãs

Não há prenúncio de amanhãs

Cada dia é um dia

De duração infinita

Há que ter galhardia

Para não se afogar na pia

No branco encardido da impotência

Deita a maledicência

Contra tudo que respira ou não

É pedra moída no coração

Ah! Maldito que não leva

A alma de vez para a treva

Se é que ainda existe

Espírito neste triste

Caminha para a cova

Não há música nem trova

Apenas esqueleto recoberto

De algo vivo, mas incerto

Não há ressurreição a vista

Não sai incólume da existência

São muitos os ferimentos

Demasiados são os tormentos

Vade retro seu humano inepto

Podre a caminho do pó

Sempre estivestes só

Da vacuidade fostes adepto

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 13/06/2013
Reeditado em 13/06/2013
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