TEMPERO
Metade do que me corre
Pelas veias esticadas,
É sangue puro e espesso,
A outra metade, é água.
Dentro do meu pensamento,
Metade é um barulho intenso,
Que não descansa nem cala;
A outra metade, é nada.
Das estrelas onde procuro
Nas noites desembestadas
A tua metade perdida
Que completa a que me falta,
Uma parte é uma estação,
E a outra, um longo trilho
Onde nunca está seguro
O trem que a memória assalta.
Assim, sou feita de carne,
Pele, osso, sangue, órgãos,
E de uma alma de gaze
Lacerada por um rasgo
Que nem o tempo costura
Com as linhas já partidas
Do que chamam sanidade.