Amanhã
Amanhã você passará por essa mesma porta outra vez
Ignorando minhas tentativas inúteis de apagar as memórias
Amanhã começaremos outra vez esse jogo insano
Que parecemos destinados a nunca terminar
Seu sorriso indecifrável estará lá outra vez
Para me remeter a tantos anos atrás
Quando as coisas pareciam felizes
Ou pelo menos poderiam ser
Se não fossem construídas com tantas mentiras
Amanhã seus olhos estarão sobre mim outra vez
Preocupados com o rumo dos segredos
Atraídos por minha natureza arisca
Mas não se preocupe
Guardei o mais falso de meus sorrisos para esse reencontro
Pois isso é tudo o que terá de mim
Essas palavras não são para você
Não passam de um alívio para minha consciência
Já que, infelizmente, pareço ter apenas a mim mesma em quem confiar
Tornei-me uma alma solitária
E imagino que tenha você a culpar por isso
Construímos uma bela farsa juntos
Mas no fundo não passamos de atores
Cumprindo com louvor os papeis
Em nosso grande palco
Quando na verdade restam apenas segredos
Palavras de ódio
E aquelas noites depressivas que terminam
Com nós dois bebendo uísque
Rindo insanamente enquanto brindamos
Perguntando a nós mesmos como foi que as coisas ficaram tão mal
Talvez você possa colocar seus dedos sujos em meu rosto outra vez
E me ajudar a tirar essa máscara
Que estou tão cansada de usar
Talvez eu possa fazê-lo entender
Que não é possível proteger aquilo que já está em ruínas
Se o palco foi criado para desmoronar
E a peça está chegando ao fim
Não sei dizer como chegamos aqui
Talvez seja apenas aquela velha história
Sobre colher o que plantamos
Então, se pretende cruzar minha porta amanhã
E destruir o restante de sanidade que ainda guardo
Faça um favor para nós dois
E pelo menos me deixe dormir em paz esta noite